domingo, 15 de setembro de 2013

Me deixa ser quem faz o laço da gravata do mordomo que te serve o jantar, me deixa ser o suporte que segura a tela plana da sua sala no lugar, me deixa usar o pé pra equilibrar aquela mesa bamba que você aposentou há mais de um mês, me deixa ser a sua estátua de jardim, o seu cabide de casacos, só não me tira de vez da sua casa. Eu posso ser a empregada da empregada da empregada da empregada do seu tio. Me deixa ser o seu pinguim de geladeira, eu fico uma semana inteira sem mexer, me deixa ser o passarinho do relógio que de hora em hora pode aparecer, pra eu te ver… Me deixa ser quem passa a calça que você precisa usar no seu jantar à luz de velas com alguém me deixa ser quem deixa vocês dois de carro em um restaurante caro. Só não deixa eu ser ninguém na sua vida?

— CLARICE FALCÃO. 

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