terça-feira, 23 de agosto de 2011

“Pra onde vai o amor, quando o amor acaba?”


ladrondeltiempo:

— O problema menina, é que amor não acaba não.

Demorei um pouco até processar a frase que eu acabara de escutar. Silenciosamente uma lágrima quis transbordar pelo meu olho que há muito já estava cansado de chorar pelo mesmo motivo. Tão cansado, tão cansado. Respirei fundo até encontrar forças pra retrucar.

— Se não acaba porque me sinto assim? Acabada. Destroçada. Como se tivessem me levado embora a vida. Não sobrou nada aqui dentro. Nem os pensamentos são mais meus! Agora é como se não houvesse motivo algum pra seguir em frente. Só pode ter acabado, não existe outra explicação pra me sentir assim…

— É você que se sente assim. Isso não se trata de falta de amor, pelo contrário, menina. Eu posso ver nos seus olhos o quanto de amor ainda há em você.

— E o que eu faço com isso? Eu não quero. Não quero que isso ainda exista em mim. Não serve pra nada, compreende? Agora eu sei disso.

Abaixei minha cabeça instantaneamente com medo do que viria a seguir. Sabia que não deveria ter falado aquilo. Não era certo, e o velhinho não me deixaria passar ilesa. É claro que não.

— Oras, como não serve?

Ele me olhava com um ar tão reprovador que meus olhos não conseguiam encara-lo.

— Bem. A única coisa que eu sei, é que depois de tudo agora eu me encontro assim. Sozinha. Com um buraco na barriga, e não é fome! Não vejo onde possa ter um sentido nisso. Eu só acho que se não tivesse acontecido, teria poupado sofrimento já que…

Comecei a me enrolar com as palavras e o vovô sabia disso quando me interrompeu ríspidamente.

— Menina, olhe só pra você. É apenas uma menina inconformada com o fim de um amor que você considerava grande. Que achava que seria eterno. Você acreditava nisso, não era?

— Sim. Sim. Sim. Era grande. Era estupidamente grande. E eterno. Eterno porque dói em cada centímetro do meu corpo quando eu penso que ele não faz mais parte de mim. Porque antes eu o queria por perto, mas agora eu preciso que ele esteja longe. Mesmo que doa, dói mais quando ele está aqui.

E então aquela lágrima insistente conseguiu escorrer vitoriosa pelo meu rosto.

— Consegue perceber agora o que eu disse sobre o amor não acabar? O que acabou foi o laço. O problema é que vocês, gurizinhos, não conseguem separar uma coisa da outra. Laços e relações são apenas um intermédio, consegue me entender, menina? É como uma ponte. Que liga uma cidade à outra. Imagine se a ponte cair… A ligação entre as duas ficará interrompida, mas as cidades continuarão existindo. Uma longe da outra.

Pensei naquilo por um longo momento e me faltou ar quando tentei retrucar outra vez.

— O senhor quer dizer que não importa se a relação, ou se o laço for cortado… O amor vai continuar existindo mesmo assim?

— Isso, isso! É isso que eu quis dizer, menina. O que acaba é essa coisa frágil que nós humanos usamos para nos relacionar com as outras pessoas. É apenas superficial. Mas o amor, menina… É muito mais do que isso. Não acaba não.

Vovô estava sério mas seus olhos estavam sorrindo. Ele sabia que estava certo. E eu sabia disso também.

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